A Influência da Perspectiva Positiva e da Mudança de Foco na Recuperação do Câncer de Mama
Resumo
A saber, o câncer de mama é uma das doenças mais prevalentes entre as mulheres e possui impactos significativos tanto no corpo quanto na mente. Estudos demonstram que a forma como os pacientes percebem e enfrentam a doença influencia todavia diretamente sua resposta ao tratamento e sua recuperação. A Psicologia Comportamental sugere portanto que padrões cognitivos e emocionais modulam processos fisiológicos, podendo afetar o sistema imunológico, reduzir o estresse e otimizar os efeitos das intervenções médicas. Este artigo explora o impacto da perspectiva positiva e da mudança de foco na jornada do câncer de mama, analisando por fim a relação entre neuroplasticidade, psicologia positiva e adesão ao tratamento. Além disso, propõe estratégias baseadas na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), mindfulness e suporte social como ferramentas para fortalecer a resiliência e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
A Influência da Perspectiva Positiva e da Mudança de Foco na Recuperação do Câncer de Mama
Evidências Científicas e Aplicações da Psicologia Comportamental
Dra. Izabelle Cotrim (Psicóloga Comportamental)
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Introdução
O câncer de mama é a neoplasia mais comum entre mulheres no mundo e representa um desafio significativo para os sistemas de saúde pública devido ao seu impacto emocional e social (World Health Organization [WHO], 2023). Além dos efeitos físicos do tratamento, que incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal, as pacientes frequentemente enfrentam sintomas de ansiedade, depressão e estresse (Carpenter et al., 2020).
A Psicologia Comportamental, fundamentada nos princípios do condicionamento e da aprendizagem, enfatiza a influência dos padrões de pensamento e do comportamento na saúde física e emocional (Skinner, 1953). Estudos indicam que indivíduos que adotam uma perspectiva mais positiva diante da doença apresentam melhor adesão ao tratamento, maior resiliência emocional e, em alguns casos, melhores desfechos clínicos (Diener et al., 2017).
Este artigo tem como objetivo explorar a influência da perspectiva positiva e da mudança de foco na recuperação do câncer de mama, por fim, analisando como a regulação emocional pode impactar o sistema imunológico e a resposta ao tratamento. Além disso, são apresentadas estratégias baseadas em evidências científicas para o manejo emocional, incluindo a reestruturação cognitiva, mindfulness, gratidão e suporte social.
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O Impacto do Estado Emocional no Sistema Imunológico e na Recuperação do Câncer
A relação entre emoções e saúde física tem sido amplamente estudada pela psiconeuroimunologia. O estresse crônico, a depressão e a ansiedade podem comprometer a resposta imunológica e criar um ambiente favorável à progressão tumoral (Antoni et al., 2006). Por outro lado, a adoção de estratégias que promovem a regulação emocional pode fortalecer o organismo e potencializar os efeitos do tratamento oncológico.
2.1. Estresse e Resposta Inflamatória
A ativação crônica do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) desencadeia a liberação de cortisol, um hormônio que, em excesso, pode suprimir a função das células natural killer (NK), responsáveis por identificar e eliminar células cancerígenas (Reiche, Nunes & Morimoto, 2004). Além disso, o estresse prolongado aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias, criando um ambiente favorável à progressão do câncer (Hanahan & Weinberg, 2011).
2.2. Otimismo, Neuroplasticidade e Regulação Emocional
O otimismo tem sido associado a menores níveis de marcadores inflamatórios e maior capacidade de adaptação ao tratamento (Cohen et al., 2016). Além disso, pesquisas em neurociência demonstram que padrões de pensamento positivos podem fortalecer conexões neurais associadas à resiliência, um fenômeno conhecido como neuroplasticidade (Davidson & McEwen, 2012).
2.3. Psicologia Positiva e Adesão ao Tratamento
Antes de tudo, a adesão ao tratamento oncológico é um dos fatores mais relevantes para o sucesso terapêutico. Pacientes que mantêm uma perspectiva positiva tendem a seguir as recomendações médicas com mais rigor, adotando hábitos saudáveis como alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e manejo adequado do estresse (Scheier & Carver, 2018).
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Estratégias de Mudança de Foco para Potencializar a Recuperação
A Psicologia Comportamental propõe intervenções que ajudam a modular os padrões emocionais e cognitivos, contribuindo para um enfrentamento mais saudável do câncer de mama. A seguir, são apresentadas algumas abordagens baseadas em evidências científicas.
3.1. Reestruturação Cognitiva e Foco no Positivo
A princípio, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ensina os pacientes a identificar e modificar padrões de pensamento negativos, substituindo-os por crenças mais adaptativas (Beck, 2011). Estudos demonstram que essa técnica reduz sintomas de depressão e ansiedade, aumentando por fim a sensação de controle sobre a doença (Kangas et al., 2013).
3.2. Técnicas de Mindfulness e Atenção Plena
Mindfulness tem sido amplamente estudado como ferramenta auxiliar no tratamento do câncer. Essa prática ensina o paciente a focar no momento presente, reduzindo a ruminação e os níveis de ansiedade (Kabat-Zinn, 1990). Pesquisas indicam que pacientes com câncer de mama que praticam mindfulness apresentam menos fadiga, melhora na qualidade de vida e melhor adesão ao tratamento (Carlson et al., 2014).
3.3. Práticas de Gratidão e Propósito de Vida
Registrar momentos de gratidão diariamente pode ajudar a reformular a percepção da realidade e reduzir o impacto emocional da doença (Emmons & McCullough, 2003). Além disso, encontrar um propósito – seja por meio de atividades prazerosas ou do envolvimento em projetos significativos – pode aumentar a motivação para enfrentar desafios e manter hábitos saudáveis (Frankl, 2006).
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Conclusão
A jornada do câncer de mama não se restringe ao tratamento físico, mas envolve um processo emocional e psicológico que pode impactar diretamente a recuperação. A mudança de perspectiva, associada a técnicas baseadas na Psicologia Comportamental, tem se mostrado todavia, uma ferramenta valiosa na melhoria da qualidade de vida e na adesão ao tratamento. Integrar essas abordagens ao cuidado oncológico pode representar, por fim, um avanço significativo na forma como pacientes enfrentam e superam a doença.
Referências
- Antoni, MH, Lutgendorf, SK, Blomberg, B., et al. (2006). Estresse e progressão do câncer: mecanismos e vias. Psiconeuroendocrinologia, 31(10), 1133-1145.
- Beck, JS (2011). Terapia Cognitivo-Comportamental: Fundamentos e Além. Guilford Press.
- Carlson, LE, et al. (2014). Intervenções baseadas em mindfulness para lidar com o câncer. Annals of the New York Academy of Sciences, 1304(1), 17-26.
- Cohen, E., et al. (2016). Influências sociais na função imunológica e inflamação. Current Opinion in Psychology, 8, 52-57.
- Frankl, VE (2006). Em busca de sentido. Beacon Press.
- Kabat-Zinn, J. (1990). Vida em Catástrofe Completa. Delacorte Press.
- Reiche, EMV, Nunes, SOV, & Morimoto, HK (2004). Estresse, depressão, sistema imunológico e câncer. The Lancet Oncology, 5(10), 617-625.
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